Parashá Emor - Comentários
de Ricardo Redisch
Shabat Shalom!
A parashá Emor, que estamos lendo esta semana, concentra-se
no comportamento e nas funções dos sacerdotes, os Kohanim,
e também em instruções detalhadas sobre os rituais
e as datas de Pessach, Shavuot, Rosh Hashaná, Yom Kipur, Sucót
e Shemini Atzeret. Ela prescreve regras específicas para os sacerdotes
no que se refere ao luto, ao casamento e relaciona também defeitos
físicos que impedem a participação em certos rituais.
Ela prescreve manter acesa a chama eterna no Tabernáculo, e mais
tarde no Templo, e colocar chalot sobre a mesa pura, diante do Eterno,
a cada Shabat.
Em seguida, temos um relato que ilustra as terríveis conseqüências
a quem blasfema o Nome de D´us, assim como uma série de regras
referentes ao sacrifício de certos animais, e também preceitos
criminais, inclusive o célebre olho por olho, dente por dente.
Ao final, vemos expresso o importante princípio de que todos, peregrinos
ou israelitas, são iguais perante a lei, estatuto básico
do moderno Estado de Direito e de qualquer sistema jurídico equânime
e democrático.
Alguns comentaristas afirmam que todos nós temos uma centelha
da alma de Moisés dentro de nossa própria alma, e que a
leitura da comunicação estabelecida entre D´us e Moisés
pode acender essa fagulha pessoal.
O rabino David Wolff-Blank, sempre lúcido e original, assinala,
inclusive, que cada um de nós contém dentro de si algo dos
sacerdotes da Torah. E sugere que nós somos pessoas comuns que
também são Kohanim sacerdotes lá no fundo,
Kadosh dentro de nossos corações. E é por isso, prossegue
Wolff-Blank, que muitas parashiot dirigem-se aos Kohanim. Elas como que
falam a um lugar central em nossos corações, onde temos
de manter um alto padrão de conduta e sermos responsáveis
por ajudar a re-equilibrar as pessoas que encontramos, a comunidade da
qual fazemos parte, e o próprio planeta que habitamos, hoje tão
carente de atenção e cuidado.
Seguindo um roteiro proposto pelo rabino Wolff-Blank, destacamos a seguir
alguns comentários sobre trechos desta parashá.
O primeiro deles refere-se à passagem Fala aos sacerdotes,
filhos de Aarão, e lhes dirás: O sacerdote, por um morto
entre seu povo, não se fará impuro exceto por seus
familiares mais próximos.
Por que não? O que é impuro quanto à
presença de um corpo sem vida? Segundo Reb Zalman, não é
o morto que nos torna impuros, mas sim a raiva e a revolta que sentimos
diante dessa realidade, e que transformam nosso bem-estar em amargura.
Para Reb Zalman, é impossível dizer uma bênção
quando estamos amargos, com raiva, e a função do sacerdote
é justamente abençoar, curar e reconfortar.
Embora obviamente sejamos humanos e solidários nas tragédias
dos que nos são caros, a nossa porção sacerdote,
nossa porção Kadosh, é conclamada a permanecer imune,
afastada da indignação e da revolta, para que possa curar
as outras partes do ser, e também a todos que buscam conforto nesses
momentos.
O rabino Moshé Hayim Efraim de Sadilkov apresenta uma outra interpretação
deste mesmo trecho que nos parece importante. Para ele, a maior impureza
é rezar com apatia e frieza, sem uma real conexão com o
que estamos dizendo.
O próximo trecho que destacamos é aquele que diz O
sumo-sacerdote não sairá do santuário. Para
o Bal Shem Tov, esta passagem mostra a importância de estarmos sempre
em uma atitude de louvor e bênçãos ao Eterno. Nunca
desvie sua atenção da maior meta da sua vida, nos
diz o grande mestre chassídico. Mantenha sempre viva em seu
coração a meta da conexão com o Eterno. Assim, você
estará sempre ´dentro do santuário`.
O próximo trecho destacado nos diz o seguinte: E quando oferecerdes
sacrifício de graças ao Eterno, para que seja aceito conforme
a vossa vontade, o oferecereis, e no mesmo dia será comido; não
deixareis ficar dele até pela manhã. O rabino Moshé
de Ohel interpreta esta passagem da seguinte forma: Não fique
sempre remoendo suas preocupações com o amanhã. Confie.
Tenha fé. Coma hoje o que você tiver em casa, com emunah,
confiança de que haverá mais amanhã.
Sobre o trecho que diz Estas são as festas fixas do Eterno
que proclamareis para santas convocações, para oferecer
oferta queimada ao Eterno, oferta de elevação e oblação,
sacrifício e libações, cada qual em seu dia próprio,
o rabino Levi Itzhak de Berditchev comenta: Cabe a cada um de nós
se entregar por inteiro a cada uma destas festas. Ansiando por elas de
todo coração, com uma cuidadosa preparação
física e psíquica, devemos trazer à tona o profundo
sentido de cada festa. É importante que elas sejam vivenciadas
de forma completa; que sejam uma experiência transformadora, em
todos os níveis da alma.
Por último é importante mencionar a passagem referente à
contagem do Omer, um período de 49 dias aonde, a cada ano, temos
a oportunidade de percorrer um roteiro de purificação até
o recebimento da Torah, em Shavuot. A contagem do Omer é um tema
que, em si, pode e deve ser estudado em profundidade. Como introdução,
recomendo o acesso diário ao site da CJB durante este período.
Logo na abertura, em uma página separada, temos uma kavanah diferente
a cada dia, com combinações entre as sete sefirot, que são
excelentes exercícios de refinamento afetivo e emocional.
Shabat Shalom!
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