|
|
|
||||
Parashá PINHAS - Pédica do Rabino |
Tratava-se de um momento de urgência onde medidas de exceção estavam claramente sendo tomadas. Os hebreus tinham uma missão a cumprir na conquista da terra que, em vários aspectos, era de ordem militar e que lhes exigia grande disciplina. Não apenas isto, mas a Torá nos relata sobre uma praga que assolava o povo, atribuída a sua má conduta, o que poderia também melhor explicar o ato "patriótico" e de "cidadania" de Pinkhas. O que é assombroso não é a perspectiva humana que percebe a realidade de maneira tão comprometida com seus próprios limites que não tem como transcendê-la. O que nos arrepia é o fato de que o início de nossa parashá é marcada pela recompensa divina que não apenas reconhece nele, Pinkhas, um sacerdote, mas lhe oferta um Pacto de Paz. Tanto mérito para um homem que de forma passional toma a justiça em suas mãos? Como falar desta parashá e não ficarmos assustados diante do paralelo com o patético assassino de Rabin? Como podemos recompensar atos profundamente extremistas? Todo a obra de Maimônides no campo da ética é baseada no que ele chamava de a "senda de ouro". E qual é este caminho ideal? É aquele que escapa aos extremismos e que busca os caminhos moderados. Este caminho mediano entre extremos é por Maimonides considerado como a meta tanto do judaísmo como da sensibilidade humana. Ao mesmo tempo, em oposição absoluta a esta colocação, encontramos a perspectiva Rebbe Menachem Mendel de Kotzk. Quando este foi questionado do porque de ser tão radical e extremista convidou a seu inquisidor que se aproximasse da janela e disse: "Você vê? Os dois lados da estrada são para os seres humanos; apenas os cavalos transitam pelo meio!". Para o Kotzker Rebbe, o caminho dos moderados, a mediatriz entre os extremos, é a "senda dos cavalos". O rabino Adin Steinsaltz em seu artigo "A Senda de Ouro e o Caminho do Cavalo" versa sobre esta controvérsia com grande profundidade. Ele persegue compreendê-la à luz de que divergências de opiniões são possíveis, mas não a este nível de se oporem radicalmente. É verdade que as figuras de Maimonides, racional e equilibrado, e do Kotzker Rebbe, impulsivo e tempestuoso, eram bastantes distintas em personalidade, mas como harmonizar duas visões tão distantes? Se em teoria o "caminho do meio" nos parece mais equilibrado e maduro, falando em termos psicológicos o Kotzker Rebbe tem razão qual é o ser humano que verdadeiramente tomado por uma profunda intenção e sedento pelo sagrado, que pode deixar de ser passional e extremista? Como estar apaixonado e ser moderado? O "caminho do cavalo" representaria a postura daquele que não tem força de vontade. Aquele que não consegue encontrar forças para devotar-se totalmente a alguma coisa. Sempre em cima do muro, tentando agradar a todos, acaba não agradando ninguém. Submetendo-se às pressões de cada extremo, o "caminho do meio", faz concessões absurdas a ambos os extremos. Seu caminho é mais do que do meio, é medíocre, como o dos cavalos. O rabino Steinsaltz nos desperta para o fato de que a "senda de ouro" de Maimonides, o caminho moderado, não é meramente a mediana entre os extremos, mas a fusão dos extremos. A "senda de ouro" não é o ponto médio, só pode ser experimentado desde a aderência ou pertinência a um extremo. Numa dada situação, a "senda de ouro" pode coincidir com a trajetória do "caminho do cavalo", mas o primeiro é o caminho que teme e evita a controvérsia, o último, por sua vez, banca e se enriquece na controvérsia. Talvez o que leva Dus a recompensar Pinkhas seja o reconhecimento que desde a paixão somente será possível chegar-se a uma "senda de ouro". Mas para tal, não apenas recompensa, mas tempera esta paixão com um pacto muito específico: um pacto de paz. O profundo sentimento de Pinkhas pode ser o elemento mais destrutivo de nossa natureza, mas se temperado com um compromisso absoluto com a paz e com a serenidade não só evitariam suas atitudes extremistas mas abririam caminho para o que de mais construtivo existe nossas paixões. Quanto àquele que na prisão cumpre pena por sua paixão, saiba ele que "o caminho do cavalo" é justamente aquele de quem evita a controvérsia. No seu caso "eliminar a controvérsia" foi levado a seu estágio final, mais sofisticado matar e silenciar a voz que se lhe opunha. É, portanto, o que de mais cavalo pode existir na "senda dos cavalos". |