Parashá VAYAKEL


Parashá VaYakel - Resumo
Moshe exorta o povo hebreu a cumprir o Shabat e pede doações para a construção do Mishkan. Moshe coleta ouro, prata, pedras preciosas, couro de animais e tecidos, assim como incenso e azeite de oliva para a Menorá e as unções. Os príncipes de cada uma das doze tribos trazem pedras preciosas para o peitoral, Efod, do Cohen Hagadol. D’us escolhe Betzalel e Oholiav para a construção do Mishkan e dos utensílios. São tantas as doações feitas pelos Bnei Israel que Moshe começa a recusá-las. São feitas cortinas especiais para o teto e a porta do Mishkan. São juntados blocos cobertos de ouro sobre base de prata para forrar as paredes do Mishkan. Betzlalel confecciona a Arca Sagrada, Aron Hakodesh, que contém as Tábuas , com madeira coberta de ouro por dentro e por fora.

Sobre a Arca são colocados os dois Querubins frente a frente com as asas abertas. A Menorá com sua base e a Mesa do Pão também são de ouro. São construídos dois altares : um pequeno para o incenso feito de madeira coberta de ouro, e outro maior para os sacrifícios, este feito de madeira coberta de cobre.


Parashá VaYakel - Comentários

Nas duas parashiot anteriores Tetsave e Kitissa, D’us dá as instruções para a construção do Mishkan. Na parasha desta semana D’us ordena o Shabat e a construção do Mishkan. Como fica ? Primeiro descansar ou construir ? Construir o Mishkan, tarefa sagrada, ou descansar ? As duas coisas juntas. Construir, descansar, construir, descansar, até terminar a tarefa.

A ordem destes dois mandamentos juntos não é fortuita. Muito pelo contrário. Ela está para nos lembrar que mesmo que a construção do Mishkan é sagrada e importante, o SHABAT É MAIS SAGRADO E MAIS IMPORTANTE.

Está escrito em Êxodo XXXV,2 : Durante seis dias farás a obra, o sétimo será sagrado para vocês, Sábado de repouso para o Eterno.

Está perfeitamente claro que aqui temos dois mandamentos : trabalhar e descansar. Mas trabalhar seis dias e descansar no sétimo. Princípio difícil de ser aceito hoje em dia quando temos que por um freio à nossas ambições materiais. É preciso ser capaz de quebrar a repetitiva engrenagem dos seis dias, desligar o "automático", dar "um clique na rotina". Tarefa difícil que requer muita coragem.

Transcrevo a seguir o que é Shabat para um romancista e escritor de peças de teatro americano, mas que poderia ser também o Shabat de um alto executivo, de um médico, de um advogado, dono de loja, etc...

"O Shabat produz um fundo corte transversal na minha própria vida, sempre que estou com alguma peça teatral sendo ensaiada. A atmosfera de crise que envolve uma tentativa de conquistar a Broadway é uma lenda de nossos tempos, mas é verdadeira. Menor era a tensão que eu sofria quando ia enfrentar uma batalha naval.

A tarde de sexta feira parece chegar inevitavelmente durante os ensaios, quando tudo semelha bordejar o fracasso. Por vezes sinto um complexo de culpa por apegar-me ao Shabat, quando as contingências são tão desesperadoras. Mais aí ocorre-me a lição aprendida com a experiência de que quase todo empreendimento teatral encontra-se sempre nesta situação. Umas vezes beira a ruína, e noutras o sucesso, porém a instabilidade é o seu ritmo normal, o grito de angustia é o seu tom natural. Por isso, não sem relutância, despeço-me de meus colegas nas tardes de sexta feira para tornar a reunir-me com eles nas noites de sábado. Nesse intervalo a peça não sofre nenhum colapso. Quando volto, encontro-a perigando normalmente e os gritos de agonia continuam tão desesperados como sempre. No final das contas, minhas peças tanto podem fazer sucesso quando fracassar. Mas, honestamente, não poderia atribuir o resultado, em nenhum dos casos, ao fato de ser um judeu que segue os preceitos do Shabat.

Deixo para trás o soturno teatro, os canecos de café jogados a esmo, os atores, os ajudantes de cena sempre aos berros, o atormentado diretor, o agoniado produtor, a densa nuvem de fumaça de cigarro e a poeira dos bastidores. Chego em casa. Dá-se uma mudança que me toma de sobressalto, igual a um breve retorno da guerra.

Minha mulher e meus filhos, de cuja existência quase ia-me esquecendo na ansiosa luta para contornar o precipício, lá estão à minha espera, alegres, nas suas roupas festivas, parecendo-me maravilhosamente atraentes. Sentamo-nos para o esplendido jantar à mesa ornada de flores e dos velhos símbolos do Shabat, as velas acesas, os pães torcidos (chalot). Abençôo meus filhos com a antiga benção; entoamos os hinos da mesa de Shabat. Não se fala de preocupações, minha mulher e eu retomamos a nossa conversa semanal. Os meninos, cientes de que Shabat é o dia de se fazer perguntas, começam a perguntar. Sobre a mesa empilham-se a Bíblia, a enciclopédia, o Atlas... Falamos de judaísmo e lá vêm os garotos com as habituais indagações possível sobre D’us, às quais minha mulher e eu tentamos responder da maneira menos desajeitada possível. Para mi, isto representa um refúgio num campo de restauradora magia.

O dia de Sábado transcorre em igual atmosfera. Os meninos sentem-se à vontade na sinagoga e gostam dali. E gostam mais ainda da presença confiante de seus pais. Nos dias de semana, as tarefas escolares, os afazeres domésticos e o trabalho – especialmente quando estou produzindo alguma peça teatral – muitas vezes não lhes permite mais do que um fugidio contato conosco. No Shabat, eles sabem que sempre poderão contar conosco. Sabem que não estou trabalhando e que minha mulher está folgada. É o dia deles.

É meu dia também. O telefone fica mais silencioso. Posso pensar, ler, estudar, caminhar ou... não fazer nada. É um oásis de tranqüilidade. Quando cai a noite, volto ao enervante e maravilhoso jogo da Broadway. Muitas vezes, é então que dou a minha melhor contribuição da semana para a medonha cirurgia literária que se repete interminavelmente até a noite da estréia.

Meu produtor me disse certa vez, numa noite de sábado : NÃO TENHO INVEJA DE TUA RELIGIÃO, TENHO INVEJA DO TEU SHABAT."


PARASHÁ