CONTAGEM DO OMER

Rabino Nilton Bonder

 


 

 

Nos 49 dias seguindo-se o segundo dia de Pessach, contamos sete semanas entre o plantio iniciado na festa da primavera e a primeira colheita em Shavuot.
Os cabalistas perceberam que o semear da terra era apenas um micro-cosmos de um semear maior que produz colheitas cósmicas por toda à Criação. O tempo para esta primeira colheita era marcado pela passagem das sete sefirot (Hessed -- Expansão / G'vura -- Contração / Tiferet -- Equilíbrio / Netsah -- Permanência / Hod -- Refinamento / Iessod -- Essência / Mal'hut -- Segurança) em combinação duas a duas com as mesmas sete sefirot.

LaG ba-OMER

Imediatamente após a euforia da liberdade, de saída do lugar-estreito (mi-TS'R-im - Egito) segue-se uma certa depressão. Da mesma maneira que o final de um choro profundo é uma sensação de alívio e alegria, a gargalhada é seguida também por uma sensação oposta de tristeza. É que a vida não é nem triste nem alegre e qualquer desequilíbrio - um momento de muita alegria ou de muita tristeza - é imediatamente seguido por um movimento de equilíbrio na direção contrária. As medidas da vida não são nem a felicidade nem a infelicidade, mas a paz e a atribulação. Vive em paz quem experimenta o doce e o amargo, o alegre e o triste na dose certa. Vive atribulado quem faz uso desequilibrado da tristeza ou da alegria.
Este período que marca a liberdade para o povo hebreu é repleto desta questão - alegria ou tristeza; esperança ou ansiedade? Pessach é alegre e dá vez à contagem do Omer (49 dias até a festa de Shavuot), que por sua vez é rompido pela euforia de Lag ba-Omer (33o dia do Omer), que por sua vez é seguido por mais tristeza e que culmina na alegria de Shavuot - a festa de entrega da Torá. De Shavuot segue-se a tristeza dos dias de Av até reencontrarmos o equilíbrio nas Grandes Festas. A liberdade traz grande desequilíbrio em nossos humores - promete e angustia.
Cabe a nós perceber que neste período do calendário estamos vulneráveis aos extremos e que as Grandes Festas nos resgatam da dimensão da liberdade, da primavera e do verão, e nos temperam com a possibilidade interna. Em nós a estabilidade dos humores é maior e se faz sentir num calendário menos agitado, também menos cheio de humores. A vida promete e angustia, a transcendência à vida nos dá paz que é a experiência das pequenas alegrias e das pequenas tristezas. A primeira é da ordem da expectativa, a segunda da ordem da surpresa.


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