Nos 49 dias seguindo-se o segundo dia de Pessach, contamos sete semanas
entre o plantio iniciado na festa da primavera e a primeira colheita em
Shavuot.
Os cabalistas perceberam que o semear da terra era apenas um micro-cosmos
de um semear maior que produz colheitas cósmicas por toda à
Criação. O tempo para esta primeira colheita era marcado
pela passagem das sete sefirot (Hessed -- Expansão / G'vura --
Contração / Tiferet -- Equilíbrio / Netsah -- Permanência
/ Hod -- Refinamento / Iessod -- Essência / Mal'hut -- Segurança)
em combinação duas a duas com as mesmas sete sefirot.
LaG ba-OMER
Imediatamente após a euforia da liberdade, de saída
do lugar-estreito (mi-TS'R-im - Egito) segue-se uma certa depressão.
Da mesma maneira que o final de um choro profundo é uma sensação
de alívio e alegria, a gargalhada é seguida também
por uma sensação oposta de tristeza. É que a vida
não é nem triste nem alegre e qualquer desequilíbrio
- um momento de muita alegria ou de muita tristeza - é imediatamente
seguido por um movimento de equilíbrio na direção
contrária. As medidas da vida não são nem a felicidade
nem a infelicidade, mas a paz e a atribulação. Vive em paz
quem experimenta o doce e o amargo, o alegre e o triste na dose certa.
Vive atribulado quem faz uso desequilibrado da tristeza ou da alegria.
Este período que marca a liberdade para o povo hebreu é
repleto desta questão - alegria ou tristeza; esperança ou
ansiedade? Pessach é alegre e dá vez à contagem do
Omer (49 dias até a festa de Shavuot), que por sua vez é
rompido pela euforia de Lag ba-Omer (33o dia do Omer), que por sua vez
é seguido por mais tristeza e que culmina na alegria de Shavuot
- a festa de entrega da Torá. De Shavuot segue-se a tristeza dos
dias de Av até reencontrarmos o equilíbrio nas Grandes Festas.
A liberdade traz grande desequilíbrio em nossos humores - promete
e angustia.
Cabe a nós perceber que neste período do calendário
estamos vulneráveis aos extremos e que as Grandes Festas nos resgatam
da dimensão da liberdade, da primavera e do verão, e nos
temperam com a possibilidade interna. Em nós a estabilidade dos
humores é maior e se faz sentir num calendário menos agitado,
também menos cheio de humores. A vida promete e angustia, a transcendência
à vida nos dá paz que é a experiência das pequenas
alegrias e das pequenas tristezas. A primeira é da ordem da expectativa,
a segunda da ordem da surpresa.
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