PREPARAÇÃO PARA O SEDER Rabino Nilton Bonder |
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Pessach é sem dúvida, uma festa mágica. Sua duração, suas leis de purificação e a mistura de história interna, coletiva, e alimentos penetram nossas células sem resistência. O segredo do Pessach é parecido com a própria vida - aprender a passar-sobre. Devemos saber passar-sobre rumo ao futuro, e ao mesmo tempo, deixar-nos tropeçar no momento. Não é por acaso que Passobre vem associado à mudança de uma estação, à transformação pessoal no reavaliar de nossas liberdades e à fertilidade ( através do "Cântico dos Cânticos"), fórmula cósmica de passar-sobre e simultaneamente tropeçar. Pessach é tempo de limpeza da Casa ( com letra maiúscula). Para os irmãos do Norte, no início da primavera, é tempo de abrir janelas e, com a verdadeira luz, a natural poder olhar o estado da Casa. É tempo de se observar as impurezas que permanecem nos cantos que se ocultam na parca iluminação do inverno interno de cada um. Nós, no entanto, os irmãos do Sul, tropicais que somos e desconhecedores da experiência particular dos irmãos do Norte, vivemos nosso Passobre no início do outono. Nessas terras, abençoadas pelo calor, muitas vezes nossas árvores, já refolhadas desde o inverno que se exauriu pela metade, precisam renovar-se. Folhas que ficam poluídas, mesmo nesta explosão de luz e calor naturais. Nós, que nos perdemos um pouco com a claridade e a intensidade deste sol que nos lembra liberdade, mas que bem sabemos, não é por si só liberdade. É hora de limpeza. É hora de nós, tropicais, voltarmos para dentro das casas e dos recintos. Isto também exige limpeza e, para nós, ela talvez seja até mais especial do que para nossos irmãos do Norte - nós nos voltamos para dentro. É hora de sacudir o levedo, dar a volta por cima do Chametz interno. UMA PEQUENA MÁGICA Sabemos que Passobre é a arte de tropeçar, que transição é estar indo, mas também é estar, que nenhum espaço interno sagrado é preparado sem que o arrumemos com cuidado, lembrando sempre do preâmbulo, da coisa antes da coisa, do tempo antes do tempo. Para isso, nossa tradição nos dotou de uma pequena pérola ritual - Bedikat Chametz . Na noite que antecede o Passobre, escondemos pequenas migalhas de Chametz por nossa casa, que serão procurada à luz de velas. Necessitamos, para esta mágica, dos seguintes ingredientes: uma pena de galinha (para servir de vassoura para o Chametz), uma pequena colher de madeira (para ser queimada), e uma vela para iluminar o caminho. Iniciamos com algum Nigun ( melodia repetitiva e sem letra) que seja mais para o introspectivo. Se você não conhece nenhuma, invente (às vezes, é até melhor, desde que lhe pareça uma melodia que seu Zeide ou Bobe cantariam e que tem gosto de Passobre). Caminhe por toda a casa, repetindo esta melodia sem parar. Lentamente, tente perceber a dimensão do Chametz ( da impureza), a qual você quer identificar, isolar e neutralizar (bedikat, bitul, bikur). Retire o Chametz de sua casa, sua Casa e suas casas. Medite sobre o Chametz do seu corpo - sobre células de Chametz que devem constantemente ser neutralizadas. Medite sobre o Chametz dos seus sentimentos, das emoções não vividas que se levedam e criam mofo. Medite sobre o seu Chametz espiritual - sobre- por que é tão difícil largar a armadura do dia-a-dia e até mesmo entregar-se a este ritual diante de seus companheiros ou amigos ou filhos. Diga então a fórmula: Baruch Ata Adonai Eloeinu Melech ha-Holam, Asher Kidshanu be-Mitsvotav, ve-Tsivanu Al Biur Chametz. (Abençoado Seja o Eterno, vitalidade deste Universo, que nos santificou com este gesto de remoção das impurezas - Chametz). Inicie sua busca dos pedaços escondidos, remova-os em embalagens seguras para que não se espalhem e para que sejam queimados no dia seguinte, e repita então a fórmula: Kol Chamiha de-Ika v-iReshuti, de-La Chamite u-de-la Ken Iehi Ratson. Que assim seja. Chag Sameach Ve-kasher! |