O Maguid do Rabino Moisés Hayyim Luzzatto Introdução |
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O Rabino Moisés Hayyim Luzzatto (1707-1746), talmudista, poeta, moralista, místico e um dos mais sensíveis escritores cabalísticos, nasceu em Pádua, filho de uma família rica que cuidou que ele recebesse uma educação completa, tanto em assuntos gerais como em Judaísmo. Ele tinha conhecimentos de latim e italiano e tornou-se um gênio em religião com tanta relevância que ele era admirado e aceito como mestre, no final do século XVIII, tanto pelos Hassidim como por seus opositores. No tempo que ele era ainda jovem e solteiro, Luzzatto reuniu a sua volta, em Pádua, um círculo de estudantes com tendências místicas. Um destes, Jekutiel Gordon, de Vilna, que veio à Pádua para estudar medicina na Universidade, relatou ao Rabino Mordecai Yoffe, de Viena, a declaração feita por Luzzatto de ele se comunicava com um Maggid do céu. Esta carta foi enviada para o Rabino Moisés Hagiz, um forte opositor do Sabataísmo, o qual veio a suspeitar das tendências sabataísticas do jovem mestre e mostrou-se escandalizado com as alegadas atividades sinistras do círculo de Pádua. Por causa disto, Luzzatto foi obrigado a desistir de seu trabalho místico. Finalmente Luzzatto viajou com sua família para a Terra Santa, pensando que lá ele estaria livre para recomeçar seus ensinamentos. Ele, entretanto, sucumbiu à peste logo assim que chegou e faleceu na cidade de Acre. Luzzatto foi um autor prolífico. Seu trabalho cabalístico Kelah Pithei Hokhmah é um levantamento compreensivo de todo o esquema Luriânico, descrito com muitos detalhes e demonstrando domínio completo da literatura cabalística. Seu livro mais conhecido é o tratado ético Mesillat Yesharim, "Caminho dos Justos", uma declaração sobre o caminho para uma vida santa para alcançar uma alma santa. Apesar que este trabalho é também baseado em idéias cabalísticas, os elementos esotéricos estão dissimulados de propósito e o livro tem servido como um guia para a vida ética judaica, mesmo para aqueles que não tem inclinações místicas. Texto I é uma tradução da carta de Jekutiel Gordon ao Rabino Mordecai Yoffe, publicada por S. Ginzburg em Rabbi Moshe Hayyim Luzzatto u- Venei Doro (1937), pag. 18-20. A carta é transcrita integralmente, porem sem os títulos introdutórios floreados que Gordon dá a Yoffe. Estes são baseados em jogos de palavras sutis em hebraico e são intraduzíveis, parecendo mais ridículos na tradução do que no original. Texto II é uma tradução de uma carta escrita por Mosés Hayyim Luzzatto ao Rabino Benjamim bem Eliezer há-Kohen Vitale, cabalista famoso e sogro do mestre de Luzzatto, Rabino Isaías Basson. A carta, escrita sob a forma de uma defesa para as alegações místicas acerca de Luzzatto também foi publicada por Ginzburg no mesmo volume, páginas 36-40. Texto I O quinto dia da semana da porção Re'eh no ano de 5489 (=1729), da santa comunidade de Pádua para a santa comunidade de Viena, para o grande e famoso senhor, meu amigo ... Rabino Mordecai Yoffe, que o Todo-Poderoso o proteja e salve. Apesar de não conhecer V.Sa. pessoalmente, tenho ouvido falar de sua fama e sinto que é direito e apropriado revelar a V.Sa. tudo ou a metade do segredo do Senhor que está con aqueles que o temem. Eu disse para mim mesmo: Se eu contar tudo não caberá na página, especialmente porque tenho o descaramento de me atrever a aproximar-me do santo para debater com V.Sa. assuntos dos quais não tinha conhecimento. Quem sou eu que me atrevo em aproximar-me? Eu não posso por isso oferecer-lhe isto na ordem correta, mas relatarei ao meu senhor num resumo a seguir. Venho, em relação às coisas da Torah, para informar meu senhor sobre o presente especial, de seu tesouro que o Santo Nome, abençoado seja, nos concedeu. Temos aqui um jovem, con não mais de vinte e três anos. Ele é um santo homem, meu mestre e professor, a santa lâmpada, o homem de Deus, sua senhoria Rabino Moisés Hayyim Luzzatto. Nestes últimos dois anos e meio, um maggid tem se revelado para ele, um anjo santo e fantástico que lhe revela mistérios maravilhosos. Mesmo antes de completar quatorze anos ele já sabia todos os escritos do Ari de cor. Ele é muito modesto, e não conta nada a este respeito, nem mesmo ao seu próprio pai e obviamente para mais ninguém. Foi aconselhado pelo Senhor que eu descobri isso por acaso, aqui não é o lugar para descrever como sucedeu. No último mês tenho sido seu assistente, retirando água do seu poço, feliz o olho que viu tudo isto e feliz o ouvido que soube disto. Ele é uma centelha de Akiva bem Joseph. Já se passaram oito meses desde que o anjo, santo e fantástico, se revelou para ele. Ele lhe revelou numerosos mistérios e explicou os métodos com os quais ele poderia chamar os membros da Academia Celestial. Com a aprovação do Santo Nome, abençoado seja, e Sua Sekhinah, ele lhe deu a ordem de compor um Livro do Zohar, chamado no Céu, o Segundo Zohar, para que um grande tikkun por nos conhecido seja realizado.1 O que acontece é o seguinte. O anjo fala através de sua boca, mas nos, seus discípulos não ouvimos nada. O anjo começa a revelar-lhe grandes mistérios. Então meu senhor ordena Elias para vir até ele e ele vem para nos contar seus próprios segredos. Algumas vezes, Metatron, o grande príncipe, também vem, assim como o Pastor Leal, o Patriarca Abrahão, Rabino Hamnuna o Velho e Aquele Velho e algumas vezes o Rei Messias e Adão. Ele já compôs um trabalho maravilhoso e fantástico sobre o livro Eclesiastes. Agora ele recebeu a ordem de compor setenta tikkunim para o último versículo da Torah: "E em toda a terra poderosa" do mesmo modo. Ele também compôs três trabalhos sobre a Torah, todos os três não comentando além da porção Va-Yeze, tudo de acordo com o grande mistério e na linguagem do Zohar. Ele conhece as encarnações anteriores de todos os homens e sabe todos os tikkunim que eles tem que realizar e ele conhece a ciência da leitura das linhas da mão e do rosto. Em resumo, nada está oculto para ele. No princípio só foi concedida a permissão de revelar-lhe os mistérios da Torah mas agora todos os mistérios lhe são revelados. Mas ninguém fora do nosso círculo sabe disto. Ele me contou em particular por que eu vim estudar sob sua direção, porque nada ocorre sem razão. Ele me falou sobre minha alma e sobre os tikkunim que tenho que realizar.2 É normal que o Pastor Leal e Metatron, Príncipe da Presença interpretem vários versículos bíblicos que se referem a ele e ao autor do Zohar, Rabino Simão bar Yohai, fazendo comparações entre ele, sobre todos os assuntos, ao Rabino Simão bar Yohai, de abençoada memória. Desta forma, na verdade, ele demonstrou para todos, que ninguém teve esta honra até agora, desde o tempo do Rabino Simão bar Yohai. Eu também, por causa do meu grande amor pela Torah, decidi abandonar as ciências externas, mas me informou, através do maggid: "Tome posse disso mas não retire tua mão da outra coisa, por causas só por mim conhecidas."3 Saiba que isto foi mantido em segredo, exceto para os membros do nosso círculo. Se eu tivesse decidido contar tudo sobre o nosso mestre e professor acima mencionado, o próprio tempo acabaria antes que eu tivesse terminado. Se V.Sa. desejar mais informações e quiser ser informado sobre o estado de sua alma e o tikkun que ela necessita, por favor me perdoe e ponha por escrito e eu lhe comunicarei a informação pouco a pouco e o senhor ficará satisfeito. Não se deve tratar destas coisas em público, especialmente porque esta é a primeira vez e eu não tenho meios de saber se o senhor receberá esta carta. Espero que meu senhor não pense, Deus defenda, que está manchando coisas sagradas pela comparação disto com coisas falsas, porque a verdade é sua própria testemunha. Pelo contrário, ele sabe de tudo que acontece debaixo do sol, todos os acontecimentos do passado e o fundamento de todas as coisas. Eu devo ser breve porque o tempo urge. Que o Senhor possa prolongar seus dias e anos.4 Assim fala seu fiel servo que transmite estes assuntos num sussurro, porque ainda não foi dada a licença para revela-los. Jekutiel, filho do Santo, nosso Mestre Rabino Leib de Vilna, que estuda a Torah e também estuda a fim de receber seu diploma de médico, se Deus assim o permitir. Texto II Para a fonte das águas vivas, a nascente de origem sagrada da casa do Senhor, a grande e poderosa árvore, anjo do Senhor de Moisés, possa o Todo Misericordioso protege-lo e salva-lo. O Senhor, que é justo e que examina todos os corações, é minha testemunha no céu e meu testemunho nas alturas do porque eu não revelei meu segredo a V.Sa. assim que eu vi seu santo rosto, da mesma forma que se vê a face de Deus. Foi somente devido ao meu desejo de manter segredo que não lhe revelei, mas agora que os fatos são de domínio público - de acordo com a palavra do Senhor, porque quando Ele fala acontece e quando Ele ordena tudo torna-se firmemente estabelecido - estou muito satisfeito em saber que o senhor tomou conhecimento do assunto por meio do sábio, tal como um anjo de Deus, seu genro, meu mestre o Rabino, possa o Todo Misericordioso protegê-lo e salva-lo. Estou especialmente satisfeito em saber que V.Sa., com sua bondade e integridade, aceita tudo como verdadeiro e confiável. E, como estou vivo, quero muito ver o santo rosto de V.Sa., mas isto não pode acontecer antes da próxima feira. Então virei me curvar ao esplendor da Torah de V.Sa., Deus assim permitindo, porque estes assuntos só vieram a luz lá fora e foram até agora um segredo guardado pelos membros do nosso círculo, que Deus os conserve.1 Que o Deus de Israel seja louvado, muita gente esta abandonando seus pecados para buscar o Senhor. Todos os que temem a Deus vem diariamente me procurar para saber das coisas novas que o Senhor me relata. Os jovens que antes se guiavam pelas vaidades da juventude, agora , graças a Deus, deixaram o caminho do mal para voltar ao Senhor, cada um deles vindo a mim para receber tikkunim para seus feitos anteriores. Eles vieram ainda ontem; será que deverei abandona-los para ir a outro país? Tal coisa não pode ser certa! Tenho a obrigação de encoraja-los até que seus pés estejam firmemente plantados, assim espero, nos caminhos do Senhor. Além do mais, é impossível confiar num milagre levando meu livro comigo por causa do perigo do censor.2 Apesar disso, sinto-me obrigado em revelar a V.Sa., cuja alma me é tão querida, os mistérios de Deus, até onde tenho licença de faze-lo e dentro dos limites desta carta. Com o olho de seu grande e puro intelecto o senhor verá como estes assuntos são profundos, assim como os pensamentos do Senhor são profundos. Os portões da graça divina, abertos de par em par quando o Templo existia, foram fechados quando ele foi destruído, o "Outro Lado" recebendo seus poderes então, pelos pecados dos nossos antepassados. Deste ano em diante os acontecimentos têm lugar de acordo com as etapas que requerem tikkun de modo que cada dia tem sua própria iluminação. Os eventos deste mundo acontecem para corresponder à natureza desta iluminação, as imperfeições que ocorreram e o tikkun especial que necessita. Muitos tikkunim foram comandados para Israel durante o exílio. Estes foram os tikkunim para a Mishnah, a Gemara e os Midrashim, cada qual necessitava um tikkun especial nesta ocasião. Cada um deles opera recebe a luz que brilha sobre ele, na medida que necessita. Mas sobre todos eles está o tikkun do Zohar. O segredo do Zohar é que ele é todo internalizado, ao contrário dos sentidos simples que são externos. Como o controle do mundo é através da internalização, decorre que os tikkunim principais são realizados por meio do Zohar.3 Explicarei isto com mais detalhes. O Zohar pertence à mesma categoria da gota seminal que provem de Yesod, portanto é denominado "o brilho (zohar) do firmamento". É bem conhecido que toda a providência procede de uma cópula, assim tudo depende da influência da gota seminal. Quando há merecimento para que a categoria da gota seminal baixe para o mundo inferior, tudo é acertado por meio de um grande tikkun, por meio daquela gota todas as coisas são aperfeiçoadas em todos os sentidos. O Rabino Simão bar Yohai merecia tornar-se instrumento pelo qual o tikkun foi realizado, portanto ele compôs o Zohar. Entretanto, a verdade é que somente parte desta luz apareceu, com a finalidade de permitir a sobrevivência de Israel e do mundo como um todo durante o exílio. Mas para que o verdadeiro tikkun seja alcançado é necessário que o movimento seja permanente e incessante a fim de que a graça divina seja constantemente renovada, como o sentido místico de: "Eles são novos a cada manhã." Porque este é o mistério do maná que caía em virtude do merecimento de Moisés cuja alma abraçava todas as seiscentas almas de Israel e que foi capaz de baixar a graça fornecida pela cópula com um poder equivalente a todos estes.4 Este é o mistério. Cada tikkun depende para ter eficiência do grau da preparação desenvolvida pelos que irão recebe-lo. .Ele só se tornará permanente quando os mesmos tiverem feito uma preparação adequada. Pode acontecer que, de acordo com a graduação produzida haja um aumento poderoso de luz celestial, tanto que os que estão aqui embaixo não estejam suficientemente preparados para recebe-la. Quando isto acontece, a finalidade ainda assim é alcançada, mas não fica permanente. Ele se vai, reservando o tikkun pleno para muito tempo depois. A prova vem do Êxodo do Egito.5 Conseqüentemente, após o Rabino Simão bar Yohai, a luz foi bloqueada. Quando depois disto novos graus de iluminação estavam prontos para aparecer, novos tikkunim se fizeram necessários. Estes só apareceram com a chegada do Ari, quando a luz voltou a brilhar na mesma escala da luz que brilhou no tempo do Rabino Simão bar Yohai, que esteja em paz. O Ari recebeu permissão para expor o Zohar do Rabino Simão bar Yohai, que esteja em paz, e então assim foi encontrado o modo de levar a iluminação original a ser completamente expressada. V.Sa. verá que a quantidade de preparativos requerida pelo Rabino Simão bar Yohai não pode ser comparada com àquela requerida pelo Ari. O primeiro precisou de uma caverna e teve que fugir para proteger sua vida e isto aconteceu na sua velhice; o segundo levou uma vida ascética, por sua livre escolha, enquanto ele ainda era um homem jovem. Muitos outros levaram vidas mais ascéticas, se torturaram mais e foram mais santos que o Ari, de sagrada memória, mas eles não podiam nem chegar perto e se comparar a ele. A verdade é que da mesma forma que há numerosas ocasiões para a redenção - porque a redenção vem em vários estágios, como o próprio Ari observou num comentário sobre "E quando o Senhor viu que ele se tinha virado para olhar," os estágios da redenção dependem dos estágios em que se encontram aqueles que serão redimidos - assim é a respeito de cada iluminação. A quantidade de preparativos necessária está na razão direta do grau de iluminação emitida. Saiba que grandes homens apareceram em Israel desde o tempo do Ari, todos eles através do poder daquela luz, que depois se foi, e assim tem continuado de geração em geração.6 Agora vou relatar a V.Sa. verdades que o Senhor me revelou a seu respeito. O senhor é o chefe das tribos de Israel. O Senhor lhe concedeu o mérito de Ter sua fama conhecida até os confins da terra. E todavia o senhor não tem discípulos especiais. Tudo vem do Senhor, tanto os grandes feitos quanto as pequenas coisas. Como não se deve louvar uma pessoa demais quando na sua presença, só posso lhe contar o principal, o que é essencial para que o senhor aceite a verdade daquilo que vou lhe relatar. Aquela luz da época do Ari de abençoada memória desceu para iluminar V.Sa. V.Sa. pertence à alma-raiz de Caim e do profeta Ezequiel e como através do senhor a iluminação original alcançou sua finalidade, o senhor está obrigado, por causa dos nossos pecados, a sofrer por nossa causa e carregar nossos fardos. Devido ao fato que o senhor nasceu sob a influência de Marte, foi lhe concedido remover o prepúcio. Como afirmei, o senhor pertence à Gevurah. Como o tikkun original já foi agora completado, não lhe foi preciso ter discípulos porque já não é necessário que esta iluminação se espalhe. Neste momento o Senhor, desejando ser bom para com Seu povo, teve vontade de revelar uma luz nova dentro da categoria do Zohar, o qual, como já mencionei anteriormente, é a iluminação fornecida pela gota seminal. Para isto, na Sua misericórdia, ele me escolheu. Se o senhor me perguntar o grau de minha preparação, o que dizer? Na verdade é que isto acontece só pela graça do Senhor e tem pouco a ver com o grau de minha preparação. Entretanto, também é verdade que eu tenho sido assíduo em praticar yihudim. Eu realizo um yihud diferente a quase cada quarto de hora, e estou até fazendo isto agora. graças a Deus. Tenho também tentado de fazer minha devoções em estado de pureza apesar de não Ter me empenhado muito em jejuar. Entretanto eu realizei yihudim. A raiz de toda aquela iluminação depende da graduação predominante num dado momento. E o Criador me utiliza agora como o instrumento para a realização de Sua finalidade.7 Em resumo, isto foi o que aconteceu. Em 1o de Sivan do ano 5487 (=1727), enquanto eu estava realizando um certo yihud, entrei num transe. Quando acordei, ouvi uma voz dizendo: "Eu desci a fim de revelar os segredos ocultos do Santo Rei."8 Por um tempo fiquei aí tremendo mas logo me dominei. A voz não parava de falar e me transmitiu um determinado segredo. Na mesma hora, no segundo dia, cuidei de ficar sozinho no quarto e a voz veio de novo para me comunicarei mais um segredo. Um dia ele me revelou que era um maggid enviado pelo céu e ele me ensinou certos yihudim que eu deveria realizar para poder ser merecedor de poder ter a revelação da presença de Elias, de abençoada memória. Foi então que ele mandou compor um trabalho sobre Eclesiastes, baseado no significado místico dos versos que ele me comunicou. Então Elias veio e me comunicou seus próprios segredos. E ele falou que Metatron, o grande príncipe, virá me visitar. Saberei que é ele pelo que Elias falou. Deste momento em diante pude reconhecer cada um dos meus visitantes. Almas, cujas identidades conheço também me são reveladas. Transcrevo diariamente as novas idéias que cada uma me comunica. Tudo isto acontece enquanto estou prostrado com meu rosto no chão e vejo as santas almas sob forma humana, como num sonho. Posso, tanto honestamente como sinceramente, afirmar que ainda não consegui nem a metade do que o Ari, de abençoada memória, conseguiu. Mas isto é devido ao fato que ele não recebeu a ordem de botar por escrito, enquanto eu recebi esta ordem. O maggid me revelou, graças a Deus, o significada mais profundo da ciência cabalística, coisas maravilhosas que poucos conhecem. Isto se deve ao fato das palavras do Ari terem o sentido obscurecido, especialmente sobre o problema de como a Coluna do Ein-Sof penetra no Mundo da Ação. De uma maneira geral existem três tópicos principais debatidos nesta ciência: como a providência opera, a descida da iluminação por estágios; e o modo pelo qual as iluminações são combinadas. Devemos levar em conta que todas as imagens que usamos para as descrições referem-se à qualidade, não à quantidade, e delas toda corporalidade foi negada. Também devemos levar em conta que toda esta ciência se preocupa con a maneira pela qual o mundo inteiro é governado através da aproximação de Hesed, Din e Rahamim. V.Sa. poderá ver que todos estes tópicos estão subentendidos na carta que enviei ao meu mestre e professor, nosso Rabino, seu genro, possa o Todo Misericordioso protege-lo e salva-lo. Não tenho permissão para desvendar como tudo irá terminar, porque é secreto e selado.9 Agora deixo V.Sa., prostrando-me com o rosto no chão e beijando a sola de seus pés com grande amor e ternura. Possa Deus satisfazer seus desejos e dar-lhe uma vida longa. Amém. Possa isto ser Sua Vontade. Seu criado eterno, Moisés Hayyim Luzzatto Na noite que se seguiu ao Shabat, o terceiro dia de Hanukkah, do ano 5490 (=1729), Padua
Comentários Texto I Mordecai Yoffe era um negociante erudito em Viena, com certeza era um patrocinador do saber. Gordon, por razões que não são bem claras, achou apropriado escolher Yoffe como a primeira pessoa a conhecer as atividades de Lazzatto. 1. O Ari ("Leão") é Isaac Luria, cujas idéias foram transcritas por Hayyim Vital (ver capítulo II deste livro) no denominado "escritos do Ari." Uma "centelha de Akiva ben Joseph" significa que uma centelha da alma do famoso mestre rabínico da antigüidade penetrou a alma de Luzzatto. Os "membros da Academia Celestial" são os famosos personagens - mencionados depois - que vem a Luzzatto quando são convocados. A palavra tikkun (plural tikkunim) é um termo cabalístico que significa a "retificação" das coisas. De acordo com a Kabala tudo agora está em estado de desordem e os reinos superiores devem ser "retificados" pelas boas obras dos homens, especialmente por várias meditações místicas e por ações especiais realizadas com intuito de dedicação. Uma parte do Zohar, conhecida como Tikkunei Zohar, tem a forma de comentários ao primeiro versículo de Gênesis. O trabalho de Luzzatto aqui mencionado tem um formato similar de comentário para o último versículo da Torah. 2. Para Metatron, veja Comentários para o capítulo 3 deste livro. O Pastor Leal é o nome utilizado (em aramaico) para Moisés. Rabino Hamnuna o Velho é um herói do Zohar, assim como Aquele Velho. Ambos aparecem no Zohar de tempos em tempos para comunicar mistérios ao círculo do Rabino Simão bar Yohai. Tikkunim, neste parágrafo também significam meditações escritas de acordo com o modelo do Tikkunei Zohar. 3. Gordon queria desistir dos estudos de medicina ("as ciências externas") mas o maggid o dissuadiu. 4. No original a frase é "não se fala desta coisas no campo" é uma jeito idiomático de dizer "não se deve tratar destas coisas em público." "Pela comparação disto com coisas falsas" quase certamente significa que Yoffe não deveria ter suspeitas de que o círculo de Luzzatto fosse Sabataísta, uma suspeita que realmente estava por de traz da oposição feita por Hagiz a Luzzatto. Texto II 1. A carta dá a entender que Luzzatto estava sendo aconselhado a deixar a Itália para ele não ser mais pressionado. 2. "Perigo do censor" significa perigo das autoridades cristãs que poderiam achar o livro ofensivo à religião cristã e confisca-lo. 3. O "Outro Lado" é a forma cabalística usual para designar o lado demoníaco da existência. Os tikkunim tem como alvo frustrar os desígnios maléficos do outro lado. Os "sentidos simples" são os que vem da Mishnah, Gemara, etc.; os "sentidos internalizados" são as interpretações puramente espirituais encontradas no Zohar, pois estes não se ocupam de maneira alguma com este mundo, mas com os acontecimentos nos reinos espirituais, os mundos superiores. 4. Yesod é a Sefirah que é simbolizada em têrmos fálicos, porque é, nas alturas, a fonte de todos os processos criativos. Por meio de Yesod é que tem lugar o "casamento sagrado" entre Tiferet e Malkhut (ver Comentários do capítulo 8). No Zohar, "o firmamento" é a denominação de Tiferet e "a terra", a de Malkhut. Daí que a "gota seminal" de Yesod é o "brilho do firmamento." E daí, também, a referência à "cópulas." Natuturalmente, Luzzatto, como na verdade todos os cabalistas, entende isso em têrmos puramente espirituais, para os quais as imagens físicas vulgares representam somente símbolos poderosos, ou melhor, seria mais correto dizer que os detalhes físicos na terra são a forma final que as entidades espirituais assumem quando elas descem de mundo em mundo até que chegam a este mundo material. 5. A "prova" do Êxodo é que mesmo o efeito de uma manifestação tão poderosa teve uma duração curta e Israel pecou mais adiante adorando o bezerro de ouro e então sofreu um exílio adicional. 6. De acordo com o Talmud o Rabino Simão bar Yohai passou 13 anos numa caverna quando ele foi obrigado a fugir dos romanos porque sua vida estava em perigo. Este fato tornou-se a base da história que o Rabino Simão compôs o Zohar enquanto ele estava na caverna. Luzzatto tenta demonstrar que iluminações não dependem necessariamente do grau de santidade dos recipientes, de modo que enquanto ele admite não ser merecedor e estar longe de ser um santo, Deus ainda assim o escolheria como Seu instrumento. Os opositores de Luzzatto, na verdade, argumentam que um homem solteiro, que não tem barba e que não tem o costume de jejuar e fazer imersões rituais, não poderia nunca ser, como ele afirma, o recipiente das revelações. É interessante notar que estes opositores, como pode ser visto nas cartas publicadas na coleção de Ginzburg, não negam que Luzzatto tem um maggid, mas ele mantêm que não era um santo anjo, mas sim uma força demoníaca. 7. Luzzatto tenta demonstrar para o Rabino Benjamim que o maggid é confiável pois ele lhe deu um relato detalhado do papel que Benjamim desempenhou no plano global. Um novo tikkun é solicitado a Luzzatto, mas a tarefa de Benjamim tinha sido completar o tikkun iniciado por Luria. Por isto Benjamim não fundou nenhuma escola e também aqueles que vieram depois dele precisam "acertar" as coisas de uma maneira diferente, como por exemplo o próprio Luzzatto. A Sefirah Gevurah é nas alturas, a fonte de tudo que tem a ver com severidade e julgamento. Desta forma, pessoas, como Caim e o profeta Ezequiel, que tem um caráter severo e inflexível requerem ter um controle firme para não ultrapassar seus limites e fazer o mal. Benjamim era um inválido e Luzzatto percebe algo messiânico no fato dele ser um sofredor, visto que aquele dado tikkum que Benjamim está tentando completar vem a ser um estágio na chegada do Messias e na redenção completa que se aproxima. O Messias sofredor é, certamente, um tema bem conhecido, citado na literatura rabínico e ao qual Luzzatto faz referência. Yihud significa "unificação" (plural yihudim). Refere-se a uma meditação sobre uma dada combinação de nomes divinos (a Cabala Luriânica está repleta destas meditações) que tem influência nos mundos superiores. "Prepúcio" aqui significa forças do mal que devem ser removidas. 8. A declaração do maggid: "En desci..." está no original, no aramaico do Zohar. 9. De acordo com a Cabala Luriânica, o primeiro estágio da revelação de Deus é para Ein Sof se "retrair" (o ato de retração é chamado zimzum) deixando um "Espaço Vazio" do qual finalmente emergem os reinos das Sefirot, dos outros mundos, até alcançar o Mundo da Ação. Mas como algo de Ein Sof é necessário para que qualquer coisa exista, há referências à "Coluna' (kav) de luz infinita que penetra no "Espaço Vazio". O grande problema que temos é entender como o infinito pode produzir o finito ou, nas palavras de Luzzatto, como é que a "Coluna de Ein Sof" pode penetrar no mundo as Ação. As "iluminações" nesta passagem são as luzes sefiróticas que vême se combinam. As três Sefirot que são a própria causa de todas as atividades criativas aqui embaixo são: Hesed, Gevurah e Tiferet. A primeira é amor na sua essência, a segunda é o poder na sua essência; a terceira é o princípio harmonizante. Nada pode acontecer sem a presença das três, mas em alguns eventos há mais ênfase em uma delas. Luzzatto utiliza, em vez de Gevurah e Tiferet, sinônimos também encontrados com freqüência na Cabala, Din ("Julgamento") e Rahamim ("Compaixão"). 10. A referência que o fim é secreto é provavelmente uma insinuação sobre o papel messiânico reservado para Luzzatto. Copyright © 2001 by Rabbi Yaakov Feldman and Torah.org
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