A PERSPECTIVA MÍSTICA DO BEM E DO MAL R. David Cooper |
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trecho do livro ´G´d is a Verb`- Putnam/Riverhead O Universo pode ser visto como um imã metafísico: em um de seus pólos está o que denominamos bem e em outro o que denominamos mal. O bem é representado por D´us e o mal por Satan. Quanto mais nos envolvemos com certas atividades, mais nos aproximamos de D´us. O contrário, obviamente, também é verdade. É importante ter em mente que estamos discutindo D´us e não Ein Sof. Ein Sof está situado além do bem e do mal; não devemos atribuir "bondade" a Ele. Se o fizéssemos, estaríamos excluindo o mal, e isto O tornaria deficiente -- o que Ele não é. Obviamente, seria tolice chamá-Lo de mal ou de bem. Dito de maneira simples, Ein Sof a tudo abarca, inclusive a totalidade do bem e do mal. Em nossa realidade, nos termos mais simples, dizemos que o bem é tudo que nos aproxima de D´us e o mal é tudo que nos afasta d´Ele. Quando um pedaço de ferro cai sobre uma superfície com um imã por baixo, algumas variáveis determinam se ele será atraído para o lado positivo ou para o lado negativo do imã. Quão próximo ele está de cada polaridade? Quão forte é o imã? Quanta fricção (resistência) a superfície oferece? Qual é o contorno e textura do pedaço de ferro? Poderíamos colocar perguntas semelhantes sobre nós mesmos. Quão próximos nos sentimos de D´us? Quão forte é a influência da consciência de D´us em nossas vidas? Quão fácil é o acesso à consciência da presença de D´us? Qual a quantidade de tempo que dedicamos a pensar sobre os significados mais profundos da vida? Até que ponto estamos condicionados por um comportamento pautado por hábitos que tornam nossa vida uma rotina inconsciente? Quando respondermos a estas perguntas, perceberemos quão conectados estamos ao imã da bondade. Perceba que, até o momento em que ele é magnetizado, o pedaço de ferro, em si, não é nem positivo nem negativo. De acordo com nossa natureza, não somos nem bons nem maus. Nós simplesmente somos o resultado das influências acumuladas em nossas vidas, adicionadas à variável mais importante: nosso livre arbítrio. Podemos nos afastar ou nos aproximar das coisas, conforme nossas escolhas. Estas escolhas, é claro, irão influenciar nosso destino final. Nada é estático, pois as forças do universo estão sempre em movimento, puxando e empurrando. A consciência mais alta, a luz do Divino, é uma poderosa fonte de atração. No entanto, ela é contrabalançada por uma influente força oposta. Alguns denominam esta força oposta de "impulso mau" (yetzer hara). Nos seres humanos, o impulso mau dispõe de um vasto arsenal, que inclui a volúpia, a cobiça, o desejo de obter status, fama, fortuna, popularidade, posses, inteligência, talento e poder. Nenhuma dessas características é inerentemente má, mas cada uma delas tem um potencial de sedução capaz de nos atrair cada vez mais profundamente na direção de nossas estruturas egóicas e nos afastar cada vez mais de nossa conexão com o Divino. A constante tensão entre forças opostas é uma lei universal. No magnetismo, elas oscilam entre o positivo e o negativo; no espaço, em cima e em baixo, à esquerda e à direita, para trás e para frente. No Oriente, este princípio é descrito como yin e yang. Na Cabalá ele é chamado de gevurot (poderes restritivos) e chasidim (poderes expansivos). A dinâmica tensão entre gevurot e chasidim surge continuamente nos grandes temas bíblicos: Adão e Eva, Caim e Abel, Abraão e seu sobrinho Lot, Sarah e Hagar, Ishmael e Isaac, Lot e suas filhas, Esaú e Jacob, José e seus irmãos, e assim por diante. Em cada momento, o cabalista percebe a relação universal representada por um aspecto mais restritivo e outro mais expansivo. Este puxa-empurra cósmico está ligado à própria natureza da criação e é o princípio sobre o qual o bem e o mal estão alicerçados. |
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