MULHERES
DO MURO CELIA SZTERENFELD |
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Eu estava lá! Em um Shabat histórico de dezembro de 1988, as cerca de 100 mulheres participantes do Primeiro Congresso Feminista Judaico em Jerusalém, descemos de um ônibus carregando uma Torá e com ela desfilamos até chegar perto do Muro. Neste local armamos uma mesa e demos início à Tefilá, sempre com um olho no livro e o outro nos radicais ameaçadores que já brandiam pedras do outro lado da cerca. As mulheres ao nosso lado berravam e algumas se descabelavam, considerando o fazíamos uma infâmia. Porém o serviço era o mais kasher possível, pois havia sido negociado de modo a acomodar as mulheres ortodoxas* feministas que participavam do Congresso e não podia ser atacado em si (por exemplo, não estávamos contando um minian e portanto pulávamos algumas tefilot). Miraculosamente, formou-se uma tenda de paz em torno de nós, tempo suficiente para que nos sentíssemos davenning, gerando um círculo de luz que nos protegeu até o final do serviço (meio acelerado, é verdade!..). Depois tratamos de bater em retirada estratégica, uma vez que o guardião do Muro, que veio ver a cena com os próprios olhos, declarou para imprensa que "Uma mulher segurando uma Torá é a mesma coisa que um porco". Desde então formou-se um grupo, Women of the Wall (Mulheres do Muro), que faz incursões parecidas em datas especiais, como forma de resistência e para nos lembrar a todos que a opressão da mulher ainda é uma realidade, dependendo de quem dá as cartas. Volta e meia elas conseguem algum avanço e volta e meia seus direitos lhes (nos) são retirados, dependendo da administração. Para contar esta história com artigos especializados, fotos e depoimentos, acaba de ser lançado o livro WOMEN OF THE WALL. CLAIMING SACRED GROUND AT JUDAISM'S HOLY SITE (Mulheres do Muro: Reclamando o Direito ao Lugar Sagrado do Judaísmo). Jewish Lights Publishing. Amazon, Jewish bookstores. As organizadoras, Phyllis Chesler and Rivka Haut, são mulheres judias feministas históricas, dedicadas ao avanço da condição feminina em nossa tradição dentro da comunidade que ela escolher. Embora ainda não tenha visto o resultado final, fico feliz de ter tido um pequeno depoimento publicado. * As mulheres ortodoxas lutavam para estabelecer novos parâmetros de participação dentro de sua própria comunidade, valendo-se de brechas na lei. Por exemplo, não há lei proibindo que um serviço seja feito somente entre mulheres com leitura de Torá (a proibição é de o homem não ouvir a voz feminina), donde era derivado que não era proibido aprender e praticar entre si. Os parâmetros desta empreitada em cada comunidade eram e são negociados com os rabinos dessas comunidades para serem bem kasher.
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