OS
DEGRAUS DA ESCADA DE JACÓ Rabino DAVID BLANK |
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Como geralmente fico confuso quando começo a contemplar o oceano de judaísmo que herdamos, gosto de pensar no desenvolvimento espiritual como uma série de estágios de mudanças de identidade Jacó não sonhou com uma escada unindo céus e terra? Pois uma escada tem degraus e os degraus de uma escada espiritual indicam estágios sucessivos de auto percepção. Depois de ultrapassar os primeiros desafios, como conhecer os principais feriados, o ciclo anual, a prática do shabat e as canções, como prosseguir pelo caminho neochassídico? Ofereço a seguir um exercício retirado da minha fantasia acerca do que existe a seguir, em forma de estágios, assim como os concebo. Iniciamos encontrando um papel para desempenhar. 1º estágio : Qual é a sua fala? Existem muitos scripts (roteiros) já prontos disponíveis na vida espiritual. Talvez você sinta imediatamente que um deles lhe é apropriado ou que poderia ser adaptado para lhe ajudar a expressar sua aventura emocional _ espiritual. Você pode se imaginar como servo/a de Deus; filho/a de Deus ( como um dos filhos de Israel) ou como soldado/a de Deus. Por sua vez, Deus é colocado no papel de rei/rainha, pai/mãe ou oficial_comandante. Muitas pessoas buscaram aparar as arestas destes papéis através dos tempos e eles têm funcionado para muitos "buscadores"(seekers) sérios. Encontrar um script que nos pareça apropriado pode nos colocar no primeiro degrau da escada espiritual de Jacó. 1º problema : Papéis que não encaixam Existe uma série de problemas em se viver dentro de um papel. Em primeiro lugar, a aceitação de qualquer tipo de papel é uma coisa difícil de fazer para algumas pessoas. Mesmo quando a pessoa consegue encontrar um papel no qual se sentiria confortável, pode se sentir meio idólatra colocando Deus no papel da contraparte correspondente. Talvez até mesmo o termo "Deus" seja somente um papel. Muitos de nós nos sentimos oprimidos/ embaraçados/ sobrecarregados ao adotar um papel obediente ou submisso em relação a Deus ( pó e cinzas, o mártir pelo divino), quando no resto de nossas vidas tentamos ser adultos assertivos, responsáveis e amigos uns dos outros. O que fazer para equilibrar o script de nossas vidas em geral e nossa identidade relativa à Torá? Um modo de solucionar isso é encontrar uma metáfora menos dependente que a de ser um escravo ou uma criança. Afinal, algumas pessoas agiam como amigas de Deus como Abraham, Noé, Moisés e Levi-Itzhak ou como Ionatan e David. Algumas tomaram a si o papel de amantes do Sagrado ( como no Cântico dos Cânticos) ou de mensageiras do Divino como o profeta Elias. 2º estágio: Escrevendo seu próprio roteiro Quando nossa identidade padrão em relação ao Divino se tornar familiar, podemos sentir uma forte vontade de ir além do script (roteiro) prescrito. É possível que sintamos que podemos escrever nossa própria descrição da relação entre nós mesmos e Deus. Como é que o judaísmo nos ajuda a escrever nossos próprios scripts? A contemplação criativa das palavras do sidur tem sido tradicionalmente uma forma de encontrar metáforas pessoalmente relevantes. A pessoa recita orações testando as palavras escritas contra o sentimento de seu coração ou então utiliza as orações como um trampolim, a partir do qual mergulha numa efusão idiossincrática e num delírio imaginativo. Este trabalho pode fazer com que a pessoa afirme "Você é meu Deus" e não somente "o Deus dos meus antepassados". 2º problema : O curto tempo de vida dos scripts originais Conforme o seIf (a pessoa) emerge do comportamento padronizado do papel para o desenvolvimento do processo de roteirização da própria pessoa; surgem preocupações quanto à total autenticidade do que se está fazendo e/ou medo de morrer. Os seres individuais todos morrem e se desintegram. Emergir como um ser particular pode causar uma crise na emuna ( fé e confiança) existencial. Assim, o emergir exige uma retestagem pessoal de todas as premissas da fé _ a permanência do Eterno, a existência da alma eterna, sua natureza de reencarnação, a natureza da unidade do universo. Analisar a negação da morte pode se tornar bastante necessário na medida em que se torna consciente de sua própria singularidade. Essas questões perenes devem ser enfrentadas para que possamos fazer declarações corajosas com nossas vidas à vista da resistência, da doença e da morte. 3º estágio: Experimentando as vestes dos anjos Até aqui podemos dizer que o desenvolvimento tem sido do self, o ruach (emocionalidade) da alma, conforme muda de um script já pronto para um individualizado. Daqui em diante pode-se dizer que os estágios dirão respeito ao desenvolvimento da alma, a neshama ( a inteligência espiritual). Começamos a tocar nas questões concernentes à nossa identificação como seres espirituais. Começamos a descobrir uma nova característica de integração com nossas preocupações menores, a nefesh ( auto percepção externa) e o uach juntos. Ao nos identificarmos como uma neshama, um ser espiritual, podemos descobrir aspectos incríveis e fascinantes de nós mesmos. Nesse estágio é útil experimentar as explorações cabalísticas de se comunicar com os arquétipos divinos como sefirot ( qualidades divinas), os anjos, os tzadikim ( seres santos) etc. Todos estes são partes mais elevadas de nós que em geral estão dormentes ou barradas de nossa consciência. Tentamos entrar em contato com a essência da sabedoria eterna, a inteligência do universo, a mãe, o pai, o/a guia, o/a aliado/a, todas as altas sefirot. Podemos olhar para as personalidades sugeridas pelas sefirot mais baixas, a luta envolvendo força e o sobrepujar, valor, groundedness estar-se solidamente centrado), o jovem homem, a jovem mulher, o herói, a heroína, a fonte de transformação, harmonia, o coração e o amor puro. Depois de se familiarizar com os arquétipos espirituais, o caminho deve levar a pessoa a encontrar e se concentrar num arquétipo (sefira Tc) e começar a se estabilizar nessa identificação. É de lugares como estes que os rebes registraram seus diálogos com Eliahu-ha- Navi, vários anjos e profetas já desaparecidos há muito tempo, pois estavam em contato com estes arquétipos. 3º problema: Inflação psíquica As histórias hassídicas relativas ao falso orgulho contra o qual o Baal Shem Tov nos advertiu são muito relevantes a estas explorações arquetípicas. É possível que confundamos os reinos mais altos com fantasias narcísicas e imaginação egóica. O Baal Shem tentou nos dar umas dicas para que olhássemos para nossos objetivos de vida divididos, onde queremos ter a pretensão de ser indivíduos mais elevados sem abandonar as pretensões da vida convencional. Por vezes atuamos como se houvéssemos transcendido nossas naturezas como os verdadeiros sábios, quando na verdade não somos tão livres quanto isso possa sugerir. 4º estágio : Ultrapassando padrões Até mesmo o El Elion, "o Deus mais elevado", é uma forma, mesmo sendo uma forma superlativa. O próximo degrau na escada de Jacó é o de ultrapassar a mais sutil limitação. É preciso que se aprenda como Deus, Abençoado/a seja, faz, isto é, unificar as mais altas percepções com as mais baixas. Quando estavam neste estágio, os tzadkim convidavam seus discípulos a se tornarem um público em iechidut ( unicidade) e falavam com eles de um lugar para além de qualquer coisa que se possa nomear. 4º problema: Perdendo-se no Jardim O trabalho neste ponto deve ser o de se distanciar até mesmo das formas mais luminosas e tentadoras. Isto é o que Reb Nachman chamou de "não se deixar distrair pelo jardim do Rei". A idéia é a de não se identificar como sendo elevado e grandioso, mas sim integrar todos os níveis juntos. Aqui somo advertidos contra o tipo de coisa que aconteceu com o Rabi Shimon bar Iochai. Rabi Shimon saiu de sua caverna após doze anos de meditação e viu camponeses trabalhando para conseguir alimento. Ele os criticou por não estudarem a Torá, o que lhes permitiria fazer comida por milagre. Ele estava caracterizando as formas mais baixas como desonradas e não como um meio de extensão da sabedoria divina. Após mais um ano na caverna, ele transcendeu este senso crítico e abençoava as pessoas a qualquer nível que estivessem no momento. Quer dizer, se após treze anos numa caverna o autor do Zohar ainda precisava de mais trabalho e correções, que dirá a gente... Na escada de Jacó Bem, dizem que já houve um Livro dos Tzadikim (de santas progressões),
escrito pelo Alter Rebe, que nunca foi publicado. Alguns dizem que ele
o queimou, ou que o entregou somente àqueles que pareciam dignos.
De qualquer forma, eu não recebi uma cópia. Onde quer que estejamos, podemos ter consciência da rede de segurança sob a escada, nossa emuna. Devemos confiar que chegaremos tão alto e tão profundo quanto precisamos. É nisto que devemos centrar quando encontramos os problemas entre os estágios do nosso crescimento. Traduzido do boletim do Aquarian Minian, de Berkeley, Califórnia, abril, maio, junho 1990
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